sábado, 30 de julho de 2011

Na área de Roland Garros - Curiosidade I

          Você, na metade do seu tour em Paris, resolve, de repente, ir até   Roland   Garros, e  ainda cheio(a) de gás, depois de uma boa caminhada por uma avenida onde só passam carrões em alta velocidade, descobre, ao chegar lá (12h 30min.), na bilheteria, que, a próxima visita guiada somente será relizada às 14h.  Faminto(a), olha em volta e constata que só há daquelas indefectíveis geladeiras com refrigerantes e água mineral.  Qual a sua reação?
1ª      Bate  em retirada, pensando: "Fica para outra oportunidade."?
2ª      Abre a geladeira e retira tudo o que imagina bebível para matar sua dobradinha fome/sede?
3ª      Dá um acesso típico de brasileiro e começa a esbravejar, especulando sobre o 1º Mundo, aduzindo que no Brasil teria carrocinha de cachorro quente, acarajé, churrasquinho, mate, de tudo um muito, na porta?
4ª      Toma logo uma atitude e puxa um sanduba da mochila e, mesmo reclamando do preço, compra uma coca-cola e se esparrama pelo chão para fazer seu pique-nicque, no estilo "eu tô pagando"?  (Vi três brasileiros que pularam en cima desta opção).
5ª      Não perde a pose e pergunta:  "Há um Restaurante por aqui?"
            Pois é, né, abusada que sou, muito estilosa, escolhi a última assertiva.  Pior é que havia.  E, ao lado de onde eu me encontrava.  Fui entrando pela lateral, porque o manobrista de carros, de luvas, logo perguntou-me se eu tinha reserva, se era só eu...  Disse-lhe que queria só fotografar o local.
           Quando cheguei ao ponto onde poderia visualizar o espaço do Restaurante, que era ao ar livre, apesar de toda a minha desenvoltura, fiquei embasbacada. Senti-me um arco-iris, passando por todas as cores, num segundo. À minha esquerda, um grupo de umas quinze pessoas, as mulheres de longo, confraternizava em torno de uma mesa, num coquetel chiquerésimo.
            Lancei um olhar "quero ver de tudo" pelas mesas, procurando um pessoal à caráter, ou seja, uniformes de tenistas, raquetes, mas, nada... Verifiquei que quase todos já estavam almoçando (gente sem graça, esses franceses, vivem pensando que a comida vai acabar e almoçam e jantam cedo), mas alguns bebericavam coquetéis.  Neste exato momento, lembrei-me que eu deveria ter, no máximo, 40 euros na bolsa (já tinha adquirido meu ingresso para a visita a RG), porque após ter perdido o dinheiro e ter recebido um reforço do Brasil,  conforme já relatei, passei a circular portando uma cota diária de 50 euros, o que já era um excesso, pois quase todos os ingressos de que precisaria já estavam comprados e uso o Navigo.
            Respirei fundo e saí calmamente circulando entre as mesas, até chegar numa de dois lugares, coberta por um simpático ombrelone ("Eu hein, eu não vou perder a pose.  Já cheguei aqui!  Posso pedir uma coca-cola e uma pétillant.  É só fazer um carão de quem está no controle.  Confiança, menina!  You can!").  O garçon veio solícito, pefuntar se eu queria almoçar.  Oui, oui, monsieur.  Entregou-me um elegante menu e eu, ao abri-lo, quase tive um acesso de tosse tipo pré-infarto.  Prato A, 86 euros, prato B...
            Meus olhos escorregaram para o último prato da relação (da relação de pratos quentes, óbvio, porque eu "não gosto de entrada", quando ela não está incluída).  Ah, ali estava o que havia de melhor, sem dúvida.  Não, ainda não tinha lido o que seria não, mas era a especialidade da casa, mais barata, e cabia na minha reserva monetária: 25 euros.  Depois, interessei-me pelo que trariam para eu comer, de lamber os beiços: porc au  caramel avec légumes.  Mon Dieu de la France!  Superbe, merveilleuse!  Olhei para a mesa ao lado e uma moçoila bebia uma coca-cola.  Imaginei, mais 5 euros, depois eu dou 10% de gruja!  Feito, tornei-me merecedora de uma cestinha de deliciosos pãezinhos (couvert - free) e a sempre presente garrafa de água natural gelada.  Não me fiz de rogada.  Pedi bastante gelo e fingi ler o Guide Vert - de vez em quando, levantava os olhos para ver o que estava rolando no meu entorno.
           Não demorou muito e veio o meu pedido.  Lindo, digno do Restaurante Le Roland Garros, estabelecimento recomendado pelo Best Restaurants Paris (ah, Iolanda, sonhar não custa nada - você é uma figuraça), porém não me trouxeram a lupa, para ver o que comeria, de tão insignificante.  Chamei insistentemente o garçon para fotografar-me com o déjeneur (déjeneur é o café da manhã do Ibis, aquilo ali era o petit dèjeuner) à minha frente, mas ele se esquivou o quanto pôde para não fazer o que eu pedia, então, só restou-me uma solução: fotografei o lauto almoço (R$78,21 - refeição + coca-cola + gruja)), para vocês pensarem bem antes de se arriscarem.
            
Mignon de porc cortado em fatias, com fios de caramelo e uma tijelinha (tipo Pathé Sadia)
com uma vagem, três tomatinhos e uma mini couve-flor).
Para acompanhar, a coca-cola que pedi, era de apenas 25cl (4,20 euros), que só utilizei como sobremesa.
Pedi a conta e, então, todo solícito, após receber a gorjeta, o garçon perguntou-me: quer que a fotografe? 

      
Iolanda Lopes de Abreu