Meu nome é Maria. Sou siryenne e estou, como incontáveis irmãos, pelas escadas, ruas, estações do metrô, sob marquises e em outros lugares de Paris, esperando uma ajuda humanitária. Sinto fome e frio, mas não perdi a esperança que me trouxe até aqui, fugindo da guerra que me tirou tudo: meu lar, minha família, meus amigos, minhas recordações de infância e juventude... Por favor, não passe fingindo que não me viu. Eu preciso de qualquer tipo de auxílio. Se você tem uma moeda, coloque-a no meu copinho; se tem um pedaço de pão, com ele poderá abrandar a minha fome, se...
Quando vi Maria, pela primeira vez, ela estava tremendo de frio, a temperatura era de 2º - e ela estava sentada no batente de uma loja, em frente à Place Monge, com um olhar vago. Eu aguardava, no ponto de ônibus, o 47 que me levaria para as bandas do Senna. Estudei-a, por uns momentos, e aproximei-me dela, tirando da "sacola de doações" umas luvas de couro forradas de pele de carneiro, que haviam pertencido a meu pai (compradas quando fôramos passar o Natal e o Ano Novo em Portugal). Não tinham tido utilidade para mim, porque eu não sentia o frio que Maria sentia, estava bem alimentada, bem agasalhada...
Perguntei, através do gestual, mostrando o par de luvas, se o aceitava. Mal respondera com sinal afirmativo de cabeça e já se pusera a calçá-las. Um imenso sorriso se abriu em seu lindo rosto. Disse para ela, tocando no meu peito: Iolanda. Ao que ela falou: Maria. Ainda através de gestos, propus-me a fotografá-la, o que permitiu. Providencialmente, porque já me encontrava às lágrimas, o ônibus chegou ao ponto e, estando afastado da calçada, ajudei a entrar nele uma mamãe com um carrinho e seu bebê, sobrando um segundinho para abanar a mão para Maria.
Iolanda Lopes de Abreu
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