quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Meu nome? É Maria.



Meu nome é Maria.  Sou siryenne e estou, como incontáveis irmãos, pelas escadas, ruas, estações do metrô, sob marquises e em outros lugares de Paris, esperando uma ajuda humanitária.  Sinto fome e frio, mas não perdi a esperança que me trouxe até aqui, fugindo da guerra que me tirou tudo: meu lar, minha família, meus amigos, minhas recordações de infância e juventude... Por favor, não passe  fingindo que não me viu.  Eu preciso de qualquer tipo de auxílio.  Se você tem uma moeda, coloque-a no meu copinho; se tem um pedaço de pão, com ele poderá abrandar a minha fome, se...

Quando vi Maria, pela primeira vez, ela estava tremendo de frio, a temperatura era de 2º - e ela estava sentada no batente de uma loja, em frente à Place Monge, com um olhar vago.  Eu aguardava, no ponto de ônibus, o 47 que me levaria para as bandas do Senna.  Estudei-a, por uns momentos, e aproximei-me dela, tirando da "sacola de doações" umas luvas de couro forradas de pele de carneiro, que haviam pertencido a meu pai (compradas quando fôramos passar o Natal e o Ano Novo em Portugal).  Não tinham tido utilidade para mim, porque eu não sentia o frio que Maria sentia, estava bem alimentada, bem agasalhada...

Perguntei, através do gestual, mostrando o par de luvas, se o aceitava. Mal respondera com sinal afirmativo de cabeça e já se pusera a calçá-las.  Um imenso sorriso se abriu em seu lindo rosto.  Disse para ela, tocando no meu peito:  Iolanda.  Ao que ela falou:  Maria.  Ainda através de gestos, propus-me a fotografá-la, o que permitiu.  Providencialmente, porque já me encontrava às lágrimas, o ônibus chegou ao ponto e, estando afastado da calçada, ajudei a entrar nele uma mamãe com um carrinho e seu bebê, sobrando um segundinho para abanar a mão para Maria.

Iolanda Lopes de Abreu

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