sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Play me, I'm yours.

No dia 24 de junho deste ano, postava, sob o título "40 Pianos nas Ruas de Paris", informando que estes instrumentos musicais estariam disponíveis, aos passantes que quisessem apresentar seus dotes artísticos, entre os dias 13 de junho e 08 de julho.  Todos apresentavam um apelo:  Play me, I'm yours.
 
Caminhava, no dia  19 de agosto, pelas imediações da Notre Dame, quando resolvi dar uma entradinha para apreciar e fotografar os jardins (sempre muito bem cuidados) do Hôtel Dieu.
 
 
 
De repente, entre uma foto e outra, vejam com o que me deparei:  um piano remanescente da referida programação. 
 

Vejam o piano ao fundo, sob a passagem coberta.
 
E lá estava o convite: Play me, I'm yours.  Ah, não resisti.  Não, não pensem que me atrevi a dar um concerto, pois sabem que esta não é a minha praia.  Hora do almoço, fome batendo, lugar aprazível... Sentei-me, após as fotos, num dos bancos do fantástico jardim e fiz meu picnic.
 
 
Vez ou outra, entrava um turista, circulava, fotografava, inspecionava o piano, com curiosidade...  Eu, firme, meio incrédula (pensei: daqui a pouco, chega um brasileiro e vai querer tocar "Samba de uma nota só"), à espera de um artista anônimo, porque afinal, ali, além de ser um imenso e o mais antigo hospital de Paris, é um lugar onde deve-se guardar silêncio e respeito, porque é também  um lugar onde repousam os restos mortais de pessoas que participaram das guerras mundiais, principalmente médicos enviados pelo nosocômio para socorrerem as vítimas nos campos de batalha e que acabaram por lá perderem suas vidas.
 
 
Não tive de esperar muito.  Entrou uma família de chineses e três deles revezaram-se tocando clássicos conhecidos em todo o mundo.  Foi emocionante.  Levaram-me às lágrimas.  Retiraram-se, silencisos, como se tivessem acabado de prestar suas justas homenagens a tantos que têm seus nomes revelados nas paredes do Hôtel Dieu.
 
 
 
 
Iolanda Lopes de Abreu